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A agroecologia e a sustentabilidade da agricultura familiar



Por Edmar Gadelha*

O Censo Agropecuário 2006, realizado pelo IBGE, mostrou a importância da agricultura familiar na economia nacional. O Brasil possui 5,1 milhões de estabelecimentos rurais, dos quais 4,3 milhões são de agricultores familiares. Em apenas 24% das terras em produção, esses estabelecimentos ocupam 74% de todo o pessoal que trabalha no campo, o que significa 12 milhões de pessoas.

Em Minas Gerais, a agricultura familiar representa 79% de todos os estabelecimentos rurais, totalizando 437.415 propriedades, que são responsáveis por 32% da produção de café e feijão, 44% da produção de arroz, 47% da produção de milho e 83% de toda a produção de mandioca. Destaca-se também pela produção pecuária, sendo responsável por um terço do plantel bovino, suíno e aves.

A agricultura familiar mineira comparece com 48% da produção leiteira. A despeito de alguma variação anual, é possível afirmar que cerca de 70% dos alimentos que vão pa ra a mesa de brasileiras e brasileiros são produzidos pela agricultura familiar.

Embora responsável por significativa parcela na produção de alimentos que contribui para a garantia da segurança alimentar e nutricional da população, a agricultura familiar vem enfrentando diversos desafios diante das adversidades econômicas, sociais, ambientais e políticas proporcionadas pelo modelo de desenvolvimento hegemônico.

Entre os diversos desafios destacam-see a dificuldade de acesso à terra, água, infraestrutura adequada, sementes e tecnologias apropriadas para produção, agroindustrialização e armazenamento. No ato da comercialização, quase sempre prevalecem os preços injustos para os agricultores. Também se destacam o pouco acesso à educação e à saúde de qualidade.

Os impactos proporcionados pelas mudanças climáticas têm sido cada vez mais desastrosos para os sistemas de produção. A contínua migração, decorrente das más condições de vida e trab alho no campo, em particular da juventude, vem comprometendo a reprodução da agricultura familiar.

A identificação e a construção de soluções para reverter esse quadro de dificuldades e tornar os agroecossistemas familiares sustentáveis são condições para o fortalecimento da democracia e de um desenvolvimento rural sustentável e solidário.

O desenvolvimento e a implementação de sistemas de produção fundados na agroecologia e na produção orgânica vêm sendo apontados por estudiosos e agricultores familiares como um caminho seguro a ser perseguido na busca da sustentabilidade. Os sistemas de produção fundados em princípios agroecológicos são biodiversos, resilientes (apresentam poder de recuperação), eficientes do ponto de vista energético, valorizam a sociobiodiversidade e constituem os pilares de uma estratégia energética e produtiva fortemente vinculada à noção de soberania e segurança alimentar e nutricional.

A partir da organização e dema ndas do setor, diversas ações para o fortalecimento da agricultura familiar vêm sendo implementadas com a criação da Subsecretaria de Agricultura Familiar em Minas Gerais. Recentemente, o governador Antônio Anastasia, sancionou a Lei nº 21.146/14, que institui a Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica Peapo. A Lei, de autoria do deputado Adelmo Leão, foi amplamente debatida com as organizações da agricultura familiar, tem o objetivo de promover e incentivar o desenvolvimento da agroecologia e da produção orgânica no Estado, buscando, entre outras ações, ampliar e fortalecer a produção, o processamento e o consumo de produtos agroecológicos, orgânicos e em transição agroecológica, com ênfase nos mercados locais e regionais; promover, ampliar e consolidar o acesso, o uso e a conservação dos bens naturais pelos agricultores; criar e efetivar instrumentos regulatórios, fiscais, creditícios, de incentivo e de pagamento por serviços ambientais para proteção e valo rização das práticas tradicionais de uso e conservação da agrobiodiversidade; e ampliar a capacidade de geração e socialização de conhecim entos em agroecologia, produção orgânica e transição agroecológica por meio da valorização dos conhecimentos locais e do enfoque agroecológico nas instituições de ensino, pesquisa e extensão rural.

Para assegurar a implementação dos projetos e ações, a lei garante a participação das organizações da sociedade civil na elaboração e na gestão dos programas de pesquisa, ensino e extensão rural em agroecologia, produção orgânica e transição agroecológica.

Com a sanção da Lei nº 21.146/14, e esperamos sua rápida regulamentação, a agricultura familiar de Minas Gerais ganha mais um importante instrumento, que, se bem implementado, contribuirá para o fortalecimento da agricultura familiar e com a segurança alimentar e nutricional da população.

Em tempo, coincide com a sanção da lei que institui a política de agroecologia, o lançamento de edital da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), que apoiará o financiamento de projet os de pesquisa para sistema de produção e segurança alimentar com ênfase no fortalecimento da produção agroecológica, extrativista e de práticas de manejo sustentável do cerrado na bacia do Rio Pandeiros.

Na mesma esteira, a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) publicou resolução criando grupo técnico para elaboração do Programa de Pesquisa em Agroecologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).

*Edmar Gadelha, sociólogo, é subsecretário de Agricultura Familiar e Regularização Fundiária de Minas Gerais, foi conselheiro do Consea

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