Pular para o conteúdo principal

Em defesa da agroecologia, contra o uso de agrotóxicos nos alimentos!

Cerca de cem pessoas participaram, na tarde de 25 de agosto, do lançamento da "Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida" em Juiz de Fora e região.

Abrindo a programação, a Trupe Artecologia de Viçosa apresentou, de modo muito cativante, a história de uma família que vive e trabalha no campo.

No "Auto do Boi Envenenado", os artistas mostram como o cotidiano dos trabalhadores rurais vem se modificando nos últimos anos. Entre outros alertas, a esposa de "Frederico" (trabalhador rural que, seguindo à risca as orientações de seu patrão, aplica "remédios" na plantação), revela que, agora, até mesmo o rio "dá uns peixe isquisito", como este da foto!


Assim como outros trabalhadores que têm contato com agrotóxicos, "Frederico" começa a apresentar sinais de que algo não vai bem em seu organismo. Há poucos dias, seu filho o encontrara desmaiado na plantação. Até que, em casa, o trabalhador passa mal novamente e morre, deixando desamparados a esposa grávida, um filho e a comadre, que, há pouco tempo, viu o marido falecer do mesmo modo que o compadre.


Em seguida, representantes das entidades que organizaram o evento (Frente de Defesa do Restaurante Popular de Juiz de Fora, Comissão Regional de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável - Zona da Mata III, Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais - CONSEA-MG) destacaram a importância de se discutir o tema, posicionando-se publicamente contra o uso de agrotóxicos nos alimentos e alertando a população para os males decorrentes da exposição a esses produtos, no campo e na cidade.


Na apresentação intitulada "Agrotóxicos - um perigo invisível", a bióloga Larissa Costa (Universidade Federal de Viçosa - UFV), representante do Comitê Regional da "Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida", destacou o número de notificações de intoxicações (uma a cada 90 minutos) e de mortes (170 por ano) por agrotóxicos, incluindo vários registros de suicídio em decorrência de problemas neurológicos (como depressão) e/ou endividamentos dos agricultores.


Lembrando que as empresas que produzem agrotóxicos (antes chamados de "defensivos agrícolas") são as mesmas que fabricavam armas químicas usadas nas guerras, a bióloga alerta que a situação deve ser ainda mais grave, uma vez que alguns estados não possuem dados disponíveis e que as notificações dependem da comunicação dos trabalhadores ou de seus familiares.




Considerando esses fatos, uma pesquisa realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), estima que, para cada caso notificado, deve haver 50 casos não notificados!



Dando sequência à programação do evento, o engenheiro agrônomo Glauco Regis Florisbelo (CTA - Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata) apresentou o tema "Agroecologia - uma alternativa viável".


Partindo do questionamento quanto à necessidade do uso de agrotóxicos, o engenheiro caracterizou a agroecologia como um sistema intensivo em conhecimento e não no uso de insumos não sustentáveis, como a agricultura industrial. "O fazer agroecológico combina a interação do saber técnico e do conhecimento dos agricultores", explica Glauco.




* Mais informações sobre a Agroecologia, como Movimento, Ciência e Prática, podem ser obtidas em www.agroecologia.org.br






Abordando o tema "Reforma agrária - para uma agricultura sem venenos", Lucas Lemos (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST), destacou características do agronegócio, como a precarização do trabalho (inclusive com situações análogas à escravidão), agressões ao meio ambiente, a exportação de riquezas e a ausência de compromisso com as comunidades.


Como na China e na Índia, toda terra arável já está plantada, o Brasil torna-se, na opinião de Lucas, o lugar perfeito para investimento em bens naturais, pela disponibilidade de terras, água e sol.

O trabalhador rural concluiu sua exposição, defendendo a necessidade de se retomar a aliança do campo e da cidade, assegurando a intenção dos trabalhadores do Acampamento Denis Gonçalves, no município de Goianá, em produzir alimentos saudáveis para o povo de Juiz de Fora e região, reforçando também a luta em defesa do Restaurante Popular de Juiz de Fora.


No final do evento, representantes do Conselho Municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (COMAPA), da Associação das Donas e Donos de Casa de Juiz de Fora e do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (COMSEA-JF), firmaram um compromisso de atuação conjunta, criando a subcomissão Zona da Mata Sul, da "Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida", que reunirá em suas ações outras entidades e movimentos sociais das cidades da Zona da Mata Mineira, contando, desde esse primeiro momento, com o apoio do vereador juiz-forano Flávio Cheker (PT).



O evento contou também com a presença da nutricionista e multi-instrumentista Tânia Bicalho, que, em 2011, lançou o CD "MPN - Música Popular Nutritiva".

Com letras, músicas e arranjos da cantora e compositora juiz-forana, as 13 canções do excelente álbum explicam a importância de uma alimentação saudável, em linguagem acessível ao público infantil.




No dia seguinte ao lançamento da "Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida" em Juiz de Fora e região, o programa "Globo Rural" exibiu uma reportagem sobre o tema.

A matéria deveria ser vista por toda a população, do campo e da cidade. Em seus segundos finais, o depoimento de um trabalhador de uma empresa que planta bananas nos faz compreender que, infelizmente, "Frederico" não é apenas um personagem de uma peça de teatro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

INSTITUCIONAL

O que é segurança alimentar e nutricional sustentável? A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas, alimentares promotoras da saúde que respeitem a diversidade cultural e que seja ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentável. Criação Criado em 1999 pelo Decreto n° 40.324 do Governador do Estado, o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais - CONSEA-MG é um órgão colegiado de interação do Governo do Estado com a Sociedade Civil, vinculado ao Gabinete do Governador. Seu objetivo é deliberar, propor e monitorar ações e políticas de segurança alimentar e nutricional sustentável no âmbito do Estado de Minas Gerais. Breve Histórico No ano de 2001 elaborou-se o Plano Estadual Dignidade e Vida e se deu a realização da 1ª Conferência Estadual de Seguranç

PROCESSO DE SELEÇÃO BIÊNIO 2023-2024 CONSEA-MG

A Comissão de Seleção do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas  Gerais - Consea-MG, responsável pelo processo de escolha das Entidades, Organizações Civis e Coletivos  da sociedade civil, na forma da Lei 22.806/2017, do Decreto nº 47.502/2018 e da Resolução nº  001/2022, torna público o presente Edital que trata do processo de seleção e renovação da composição  do Consea-MG para o biênio 2023-2024.  Ficam abertas as inscrições de Entidades, Organizações Civis ou Coletivos da sociedade civil para  seleção de representação para o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas  Gerais (Consea MG), para ocupar 26 (vinte e seis) vagas de membros titulares e 26 (vinte e seis) vagas  de membros suplentes para o Biênio 2023-2024, sendo:  17 (dezessete) vagas de membros titulares e 17 (dezessete) vagas de suplentes destinadas às  entidades, organizações civis e coletivos de abrangência regional, circunscritas à territorialidade,  conforme art.17

Relatório da 8ª CESANS

Conheça o relatório final da  8ª Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais, realizada nos dias 25 a 27 de outubro de 2023. É com imensa satisfação que compartilhamos o Relatório da 8ª Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais, realizada nos dias 25 a 27 de outubro de 2023. Este relatório é resultado da resistência, maturidade e compreensão do atual momento político que o país atravessa, marcado pelo desafio da reconstrução das políticas públicas, com o firme compromisso de apoiar aqueles que mais necessitam. Leia AQUI o relatório final da 8ª CESANS. A 8ª conferência reuniu mais de 200 delegadas e delegados de todo o estado. As propostas apresentadas lançam luz sobre as realidades municipais e desempenharão um papel fundamental na elaboração do VI Plano Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais (2024/2027). Além disso, essas contribuições enriqueceram os debates da 6ª