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ARTIGO: O AGRO NÃO É POP, O AGRO MATA!

O diálogo sobre o papel da alimentação e do cuidado ambiental é tema da resenha apresentada pela Universidade Federal de Alfenas escrita por Igor Prudêncio Trujillo Granja. A proposta ganhou destaque e está sendo divulgada pela Coordenação Colegiada CRSAN Sul. Agradecemos a partilha da resenha e sabemos que é uma importante pauta nos dias atuais. 

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O AGRO NÃO É POP, O AGRO MATA!

O filme “O Veneno está na Mesa I (2011)” denuncia, em forma de documentário, o contexto que o Brasil vem passando nos últimos anos em relação ao uso abusivo de agrotóxicos na produção de alimentos. O início do vídeo alerta a respeito de dados de 2008, na qual o país já era o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, e que cada brasileiro consumia, em média, 5,2 litros destes venenos por ano. Historicamente resgata como nosso território, desde sua formação, acostumou-se com o processo de produção a partir de seus recursos naturais, e traz à tona a seguinte indagação: Quais os efeitos sobre o atual cenário dos agrotóxicos na saúde coletiva e ao meio ambiente? A revolução verde trouxe, como consequência, a monocultura, uso de máquinas no campo, substituição da mão de obra do homem, que migrou para as cidades, e com isso aumento dos insumos agrícolas, agrotóxicos, adubos químicos e uso de transgênicos/híbridos. Isso acaba representando uma negligência ao conhecimento histórico dos produtores e compactuam da tecnologia e capital de lucro acima de tudo, um pouco do que diz respeito ao interesse do capitalismo neoliberal.

Há o relato de diversos olhares ao longo do filme, desde profissionais da saúde, até os agricultores locais. O fato é que a realidade vivida por aqui é bem diferente de outros países que também se consideram progressistas, com a liberação de agrotóxicos que não são aprovados em quase nenhum outro lugar do mundo, e que segundo especialistas deveriam ser reconsiderados pela Agência de Vigilância Sanitária brasileira (ANVISA). As consequências do uso deste tipo de “aditivo” na produção ocasionam danos agudos e crônicos, tanto para os produtores, quanto para os consumidores. Os danos são ambientais e humanos, do ponto de vista social e biológico, pois se tratam de produtos tóxicos que desencadeiam toda a teia alimentar. Por fim, o vídeo traz em destaque argumentos muito importantes para a discussão da causa no Brasil, que é o que realmente estamos dispostos a abdicar em busca de lucro de mercado e ganância, pois estamos abdicando de saúde.

A primeira edição documentária é completa e interessante, a segunda intitulada como “O Veneno está na Mesa II (2014)”, é ainda melhor. O documentário é riquíssimo em críticas reflexivas e argumentos sobre o quão problemático é o cenário brasileiro envolto ao agronegócio. Desde o começo é levantado diversos dados impactantes sobre o assunto, e se inicia com um suposto argumento de que o PIB de 2013 havia sido salvo pelo agronegócio exportador, e já coloca em jogo a reflexão: Quem está se beneficiando com estes números do PIB? O que estamos abdicando em saúde coletiva e meio ambiente?

O filme evidencia o cenário por de trás das aparências, e expõe como funciona o “jogo” de financiamento do agro nas mídias e nas campanhas eleitorais em troca de apoio político. E com isso transfere todo conhecimento científico das problemáticas das ações em investimento setorial como “salvação” da economia e da pobreza. O crescimento sobre os interesses econômicos do agronegócio vem sacrificando os de saúde pública, desde o ocultamento de dados até a sobreposição de ministérios no que é considerado uma “questão ideológica”. O Ministério da Saúde e a Fiocruz apontam que de 1999 à 2009, 62.000 pessoas se intoxicaram com o manuseio direto destes agrotóxicos, e relatos impressionantes são expostos ao longo do filme, como o da contaminação em uma escola próxima das monoculturas.

O grande ponto, e talvez faça deste segundo filme mais interessante que o primeiro, é o levantamento de uma solução alternativa para o desenvolvimento do Brasil no setor agrário: a Agroecologia. Esta, por sua vez, engloba uma série de vantagens a saúde, ao meio ambiente, e por mais contraditório que posso parecer, à economia. Técnicas de biofertilizantes, aumento da biodiversidade, Segurança Alimentar e Nutricional, Direito Humano à uma Alimentação e Nutrição Adequadas, Soberania Alimentar, entre outros diversos aspectos positivos. Segundo dados levantados também, as agriculturas camponesas mesmo com 20% das terras, produzem mais de 50% da comida do brasileiro, e a solução para a produção em larga escala, seria uma reforma agrária com aumento de terra nas mãos dos pequenos agricultores, e que para isso deve haver aproximação da população com o produto e o produtor.

Nos últimos anos, o poder político assumiu a liberação de ainda mais agrotóxicos, e a bancada ruralista ainda controlam e monopolizam o congresso e a produção, isso inviabiliza o crescimento e apoio aos agricultores familiares, por isso é dever de nós, futuros nutricionistas e nutricionistas defender, de forma permanente, a política contra o uso dos agrotóxicos.


Discente: Igor Prudencio Trujillo Granja (2017.1.04.021)

Docente: Luiz Felipe Paiva

Resenha 2 apresentada à disciplina de Nutrição Social II como requisito de avaliação.

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